Keith Devlin apresenta O gene da Matemática, um livro sobre Matemática, mas o que menos se vê são fórmulas, figuras geométricas, números... Enfim, o que se espera de um de livro de Matemática não aparece neste livro sobre Matemática. Está é uma forma de interpretar o fato de o livro destoar completamente do padrão. Considerando estas considerações preliminares, e aceitando que esta também é uma forma de se aprender o assunto, temos no livro uma interessante viagem pelo um universo histórico de formação da condição humana que conseguiu construir o maravilhoso edifício da Matemática. Keith Devlin vem já há alguns anos defendendo teses diferenciadas e escrevendo textos sobre a disciplina de Matemática, a partir dos quais se pode saber muito sobre o assunto, mas, definitivamente, nada do assunto. Tal idéia não consiste novidade quando lembramos dos diversos livros que estão já publicados sobre as maravilhas da ciência e da tecnologia, onde a Matemática tem proeminência como suporte por traz dos bastidores de tudo aqui que
se apresenta (afinal, as Teoria da Relatividade está provada matematicamente). Por isto é que os livros de “divulgação científica” fazem tanto sucesso, explicando de maneira acessível à maioria das pessoas as maravilhas da ciência, especialmente da Física.
Também fazem muito sucesso os filme de ficção, ou as séries, como é o caso de Numb3rs, onde um matemático ajuda a solucionar fatos criminosos. O autor, por outro lado, vai muito além deste propósito. Ainda que uma vez ou outra apresente curiosidades matemáticas, O gene da Matemática apresente uma consistente tese sobre a capacidade matemática que todos os seres humanos têm. Devlin deixa de lado as curiosidades e as maravilhas da disciplina, e adentra em um denso universo de informação, hipóteses, e teses sobre a evolução humana. A proposta do autor é encontrar, na análise do desenvolvimento da espécie, os fatos que justificam nossa capacidade de fazer matemática.
O livro então se desenvolve a partir da análise de muito do que já se sabe sobre a evolução humana, a partir dos estudos de psicólogos, antropólogos, biólogos, passando especialmente pelos lingüistas. Devlin discorre longamente sobre as possibilidades teóricas que justificam a formação da linguagem, que, em sua essência, é muito semelhante ao pensamento matemático.
Em verdade, há uma associação direta entre nossas capacidades para a linguagem a nossa capacidade matemática. As línguas se formam, fundamentalmente, por um sistema estrutural, ou o esqueleto que dá suporte ao edifício lingüístico, que chamamos sintaxe, juntamente como nossa capacidade de articular sons, de representar simbolicamente, e, especialmente, por nossa capacidade de abstrair. Na tese do autor, cada um destes aspectos é explorado desde a formação dos primeiros hominídeos, e são avaliadas as possibilidades que justificam a formação de cada uma destas capacidades.
A associação direta com a matemática é evidente: as capacidades que deram condições para que o ser humano formasse a linguagem também dá forma às habilidades requeridas para a Matemática. Sem necessitar da leitura do livro, já sabemos que em Matemática necessitamos especialmente da capacidade de representação simbólica, além do pensamento abstrato. Se reunimos a isto a capacidade de percepção espacial, de ordenamento, e o senso numérico, estamos com todos os ingredientes para desenvolvermos tudo o quanto sabemos em Matemática.
As pequenas variações, que em si não são excludentes, entre a matemática e a linguagem, tiveram sua formação desde o homo erectus, e se fortaleceu no homo sapiens. Com os elementos estruturantes, o desenvolvimento de cada uma viria naturalmente, de acordo com a necessidade. Daí porque a linguagem surge e se forma bem antes da matemática: a espécie humana desenvolveu a linguagem quando precisou desta; a matemática veio bem depois, quando as civilizações já eram suficientemente complexas para exigir os conhecimentos para o beneficio coletivo que somente a matemática poderia providenciar.
Os oito primeiros capítulos do livro vão constituindo a tese do autor, e o capítulo nove apresenta uma série de considerações conclusivas. Na passagem, o autor viaja por caminhos altamente estranhos para a maioria dos matemáticos. Por momentos chega-se a se pensar que o autor perdeu o rumo, o que seria difícil para o professor e doutor em Matemática Keith Devlin. No fechamento do livro, é possível entender perfeitamente as razões por digressões tão longas.
Ao final tem-se uma interessante tese sobre a capacidade humana para a matemática, que, argumenta-se, não passa necessariamente pelo conhecimento da Matemática. Em verdade, o que é o pensar matemático é facilmente observado no universo cotidiano, e o autor dá exemplos disto. O maior problema para a maioria das pessoas é, como já se sabe, o aprendizado da Matemática formal, aquela que aterroriza tantas pessoas nas escolas e universidades.
O livro é uma bela obra em sua tese, mas parece se demorar excessivamente na exposição de suas justificativas. Por momentos, tem-se a impressão de se estar lendo um livro de Lingüística ou Antropologia. Da necessidade das justificativas, não de contesta. Da extensão dos detalhes até diversos pormenores, aí sim, tem-se problemas, como leitor. Talvez o autor devesse ser mais objetivo, mas sua forma de encaminhamento encontra justificativas. O gosto varia por leitor, e deixo para cada um julgar.
No mais, o livro atinge perfeitamente seu propósito de exibir as origens de nossa capacidade matemática. Todos a temos, mas nem todos nós temos capacidade ou disposição para aprender sua estrutura formal. Vale a repetição: todos temos a capacidade matemática, mas não necessariamente a capacidade de aprender e conhecer a Matemática formal e avançada.
Eu diria que a leitura do livro é boa, esclarecedora, relevante, especialmente para os estudantes de matemática, e, obviamente, para os matemáticos. A leitura também é muito interessante para professores e pessoas envolvidas com a formação em Matemática, especialmente de crianças. Outros possíveis leitores, somente se forem realmente interessados no assunto.
se apresenta (afinal, as Teoria da Relatividade está provada matematicamente). Por isto é que os livros de “divulgação científica” fazem tanto sucesso, explicando de maneira acessível à maioria das pessoas as maravilhas da ciência, especialmente da Física.
Também fazem muito sucesso os filme de ficção, ou as séries, como é o caso de Numb3rs, onde um matemático ajuda a solucionar fatos criminosos. O autor, por outro lado, vai muito além deste propósito. Ainda que uma vez ou outra apresente curiosidades matemáticas, O gene da Matemática apresente uma consistente tese sobre a capacidade matemática que todos os seres humanos têm. Devlin deixa de lado as curiosidades e as maravilhas da disciplina, e adentra em um denso universo de informação, hipóteses, e teses sobre a evolução humana. A proposta do autor é encontrar, na análise do desenvolvimento da espécie, os fatos que justificam nossa capacidade de fazer matemática.
O livro então se desenvolve a partir da análise de muito do que já se sabe sobre a evolução humana, a partir dos estudos de psicólogos, antropólogos, biólogos, passando especialmente pelos lingüistas. Devlin discorre longamente sobre as possibilidades teóricas que justificam a formação da linguagem, que, em sua essência, é muito semelhante ao pensamento matemático.
Em verdade, há uma associação direta entre nossas capacidades para a linguagem a nossa capacidade matemática. As línguas se formam, fundamentalmente, por um sistema estrutural, ou o esqueleto que dá suporte ao edifício lingüístico, que chamamos sintaxe, juntamente como nossa capacidade de articular sons, de representar simbolicamente, e, especialmente, por nossa capacidade de abstrair. Na tese do autor, cada um destes aspectos é explorado desde a formação dos primeiros hominídeos, e são avaliadas as possibilidades que justificam a formação de cada uma destas capacidades.
A associação direta com a matemática é evidente: as capacidades que deram condições para que o ser humano formasse a linguagem também dá forma às habilidades requeridas para a Matemática. Sem necessitar da leitura do livro, já sabemos que em Matemática necessitamos especialmente da capacidade de representação simbólica, além do pensamento abstrato. Se reunimos a isto a capacidade de percepção espacial, de ordenamento, e o senso numérico, estamos com todos os ingredientes para desenvolvermos tudo o quanto sabemos em Matemática.
As pequenas variações, que em si não são excludentes, entre a matemática e a linguagem, tiveram sua formação desde o homo erectus, e se fortaleceu no homo sapiens. Com os elementos estruturantes, o desenvolvimento de cada uma viria naturalmente, de acordo com a necessidade. Daí porque a linguagem surge e se forma bem antes da matemática: a espécie humana desenvolveu a linguagem quando precisou desta; a matemática veio bem depois, quando as civilizações já eram suficientemente complexas para exigir os conhecimentos para o beneficio coletivo que somente a matemática poderia providenciar.
Os oito primeiros capítulos do livro vão constituindo a tese do autor, e o capítulo nove apresenta uma série de considerações conclusivas. Na passagem, o autor viaja por caminhos altamente estranhos para a maioria dos matemáticos. Por momentos chega-se a se pensar que o autor perdeu o rumo, o que seria difícil para o professor e doutor em Matemática Keith Devlin. No fechamento do livro, é possível entender perfeitamente as razões por digressões tão longas.
Ao final tem-se uma interessante tese sobre a capacidade humana para a matemática, que, argumenta-se, não passa necessariamente pelo conhecimento da Matemática. Em verdade, o que é o pensar matemático é facilmente observado no universo cotidiano, e o autor dá exemplos disto. O maior problema para a maioria das pessoas é, como já se sabe, o aprendizado da Matemática formal, aquela que aterroriza tantas pessoas nas escolas e universidades.
O livro é uma bela obra em sua tese, mas parece se demorar excessivamente na exposição de suas justificativas. Por momentos, tem-se a impressão de se estar lendo um livro de Lingüística ou Antropologia. Da necessidade das justificativas, não de contesta. Da extensão dos detalhes até diversos pormenores, aí sim, tem-se problemas, como leitor. Talvez o autor devesse ser mais objetivo, mas sua forma de encaminhamento encontra justificativas. O gosto varia por leitor, e deixo para cada um julgar.
No mais, o livro atinge perfeitamente seu propósito de exibir as origens de nossa capacidade matemática. Todos a temos, mas nem todos nós temos capacidade ou disposição para aprender sua estrutura formal. Vale a repetição: todos temos a capacidade matemática, mas não necessariamente a capacidade de aprender e conhecer a Matemática formal e avançada.
Eu diria que a leitura do livro é boa, esclarecedora, relevante, especialmente para os estudantes de matemática, e, obviamente, para os matemáticos. A leitura também é muito interessante para professores e pessoas envolvidas com a formação em Matemática, especialmente de crianças. Outros possíveis leitores, somente se forem realmente interessados no assunto.
Referência:
DEVLIN, Keith. O gene da Matemática. Rio de Janeiro: Recorde, 2004.
349p.
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